Após Leme ao Pontal, fiquei pensando qual seria o próximo desafio… então, por que não fazer uma travessia internacional?! Estudamos um trecho que seria um grande desafio, especial e por onde importantes nadadores passaram.
Assim nasceu o projeto rumo à Capri-Napoli, uma das maiores, mais prestigiadas e desafiadoras da Europa. Além de nos proporcionar um belíssimo visual, essa travessia faz parte do circuito Grand Prix FINA, tendo hoje a brasileira Ana Marcela Cunha como atual recordista do percurso.
Preparação
Foram 8 meses de preparação, com treinamentos em mar e piscina, todas as manhãs e intercalando alguns à noite, totalizando 10km diários. Treinamentos longos de barco, com duração de 4h à 7h e quilometragem entre 15km e 25km.
Alguns treinos longos, na orla de Copacabana, iniciando na madrugada para pegarmos mudança da maré e treinar também o psicológico. Fortalecimento muscular com exercícios específicos envolvendo membros superiores e inferiores, alguns com elástico, outros em aparelhos de musculação e abdominais.
E participação em competições, como a 14 Bis (24km) de Bertioga a Santos, Ilha do Mel (20km), Rei e Rainha do Mar (7km e 10km). Contei também com o apoio de uma equipe multidisciplinar que orientou meu treinamento juntamente com o Coach Renato. São eles: Marcos Arzua (apoio técnico), Cláudia Arakaki (psicóloga – CAMPsicologia), Júlia Vasconcellos (nutricionista – Nutricorp), médico Arthur Cortez, Mariana Dias (massoterapeuta, fisioterapeuta – Espaço Dias).
Para uma prova dessa importância e com tantas dificuldades é fundamental um planejamento integrado e que permita manter o corpo em equilíbrio e competitivo.
Imprevistos
Como nem sempre os planos funcionam 100%, fui pega de surpresa ao final de 2016, após a última travessia Fuga das Ilhas com uma meningite viral e fiquei internada. Como era a segunda vez, fiquei afastada das atividades por cerca de 2 meses, retornei em fevereiro. O episódio não me impediu de correr atrás do prejuízo e buscar resultado a cada treino, a cada respiração e sempre dando o meu melhor no dia a dia.
A Prova
Desafio e superação, são duas palavrinhas que andam sempre comigo. A ideia também é incentivar mais mulheres para a modalidade de maratona aquática e mostrar o quanto esse esporte é apaixonante! Sempre com o pensamento a ser compartilhado de que: pessoas comuns também podem fazer coisas extraordinárias!
Dia 30 de junho de 2017, o grande dia! O momento tão esperado! Foi difícil dormir à noite anterior, ou melhor, não dormi. A ansiedade e a adaptação ao fuso horário não me ajudaram. Não sabia como ia ser, ou como me sentiria, posso dizer também que senti um certo medo pelas minhas condições psicológicas, mas algo mais forte falou dentro de mim: Eu vou conseguir!
Senti na pele as imensas dificuldades desse percurso de 36 km pelo Mar Tirreno. Saímos da ilha de Capri às 9h da manhã (horário local), o clima estava bom, temperatura da água também excelente, em torno de 24 graus.
Imprimi um ritmo mais cadenciado no início, e fui na crescente. Até 2h de prova consegui um ritmo bem forte, mas depois disso entrou um vento lateral e uma corrente contra. Mesmo assim consegui continuar com um ritmo forte, que dava a impressão que seria possível finalizar a prova bem, em torno de 7, 8 horas.
Mas faltando 10 quilômetros para o final, entrou um vento muito forte de frente para mim, que deixou a corrente contra ainda mais forte e o mar muito ondulado. O próprio presidente do comitê organizador ressaltou que foi uma das travessias mais difíceis já realizadas.
E como se os obstáculos naturais já não fossem suficientes, meu barco de apoio quebrou. Tive que nadar por cerca de 20 minutos sozinha e também perdi uma hidratação, assim acabei tendo um forte enjoo. Tirei forças de sei lá onde para continuar, ou melhor, Deus me deu forças para seguir em frente. Às 20h, após 11 horas cravadas no relógio, cheguei em Nápoles, exausta, mas ao mesmo tempo com a consciência de que foi uma experiência incrível e muito gratificante. Essa foi a prova mais difícil que já fiz!
A conquista
No que pensei??? Nossa!!! Quanta coisa pensei, mas não consegui pensar em desistir, essa palavra parece que minha mente não conhece. Começo então a contar, conto até 20, 30 e reinicio. Olho pra a frente e penso: caramba, falta muita coisa ainda, mas vamos nessa!
Pensei no tempo que gostaria de ter feito, caso o mar estivesse em melhores condições. E a pedra que estava mirando que não chegava nunca! Também pensei: Poxa, por que na minha vez tem que ser sempre pior? Cheguei até a pensar: Essa é a minha última! rs
Ao longo de toda a preparação, recebi muito carinho e apoio de amigos, familiares, equipe, pessoas próximas e outras distantes. Foi difícil não ter a caída no mar do “cardume navegantes” junto a mim, mas levei todos comigo em pensamento e no coração. A força vem de dentro, de Deus, nosso império interior, e o foco no objetivo.
Ter passado por tudo isso e conseguir concluir a prova só ressalta que nós, seres humanos, somos capazes de alcançar nossos sonhos e superar nossos próprios limites, especialmente nós mulheres.
Assim como no mar, na vida temos uma série de situações que fogem do nosso controle e precisamos aprender a lidar. E por mais difícil que pareça, a gente precisa acreditar em nós mesmos e seguir em frente.
Por isso, espero que minha história ajude a motivar mais pessoas a irem além dos seus limites e, claro, a atrair mais praticantes para a maratona aquática, uma modalidade desafiadora, mas muito apaixonante do qual tenho muito orgulho de ajudar a fomentar.
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